Envelhescência

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O processo de envelhecimento é complexo e apresenta aspectos físicos, sociais e psíquicos. O homem, desde que nasce, começa a envelhecer. Porém, os efeitos do envelhecimento passam a ser sentidos, de fato, a partir dos 60, 65 anos.

São mudanças fisiológicas que ocorrem, com a diminuição progressiva da eficiência das funções vitais, dos músculos, os cabelos brancos. São duros golpes no narcisismo, com perdas sucessivas que equivalem a lutos que precisam ser elaborados. O corpo e sua representação devem ser redesenhados.

Existem também mudanças sociais: a aposentadoria traz uma situação econômica difícil se não houver uma outra fonte de renda; a desqualificação feita pela nossa sociedade, que supervaloriza a juventude e o novo. As coisas são consumidas e rapidamente se tornam obsoletas. Diferente da mentalidade européia, onde o velho é muito respeitado e considerado. Portanto, os preconceitos e a impotência são muito mais sociais e psicológicos, do que do próprio indivíduo.

Envelhecer não é absolutamente o que se acredita e o que se diz por aí. Tudo depende de como cada um vai vivenciar as transformações desta fase. Como a Sra.X viveu a sua menopausa? Como o Sr.Y encarou sua aposentadoria? Que outras possibilidades de vida foram encontradas? Há que se reinventar a si mesmo. Há que se apossar, outra vez e para sempre, daquilo que se é. Daquilo que foi adquirido ao longo da vida e que não se perde jamais.

Concordo, difícil é fazer isso numa sociedade que valoriza o ter e não o ser, a necessidade de estar inserido no processo produtivo. Mas tantas coisas podem ser feitas, “ao invés de”. Muitos indivíduos se mantêm ligados ao trabalho ou passam a pintar, escrever, esculpir, a praticar esportes. É este um tempo de reavaliação e de se fazer o que se gosta. É a recriação do Eu diante das novas exigências pulsionais, das novas exigências do corpo. Porisso, há que ter flexibilidade.

Envelhecemos como vivemos, ou seja, se tivemos uma vida plena, feliz, se cuidamos carinhosamente do corpo, fica mais fácil envelhecer com serenidade e qualidade de vida. A velhice, sob um certo ponto de vista, então nada teria a ver com a idade cronológica, mas com um estado de espírito. De fato, existem “velhos” de 20 anos, e “jovens” de 90. No entanto, alguns envelhecem muito amargos. Parecem cobrar da vida e dos seus, algo que não lhes foi dado ou tirado. São “velhos” que estão “de mal” com o mundo, criticam a juventude, não aceitam o novo. Mostram-se incapazes de se solidarizar com o outro, e acabam condenados à solidão, à depressão.

Os mais velhos, como todos, precisam ser ouvidos. Querem um olhar, um carinho, um suporte que os ajude a viver. Muitos estão condenados ao desamparo. Não têm família. Mas precisam de amigos. O calor humano é fundamental, as relações com seus semelhantes é o que os sustenta. Muitos morrem de solidão. No entanto, há um pudor em demonstrar a necessidade. “Eu não quero atrapalhar”, dizem , não querendo piedade. Mas a deterioração ou falta de relações humanas os lança na depressão, na regressão, na lentificação das funções vegetativas, nas doenças degenerativas, nos estados confusionais ou de demência, o que pode significar retirar-se do mundo, desligar-se da vida.

O que mantém o homem vivo é o Amor, espaço onde é permitido sonhar, planejar. E para amar não existe idade. O ser humano vive a busca infinita do complemento (ilusório, porém necessário) de si no outro. Para o espírito não há limite.

A sexualidade está presente na terceira idade, e não sendo reprimida ou cobrada com ansiedade de performance, pode ser vivida plenamente até o fim da vida. Não começa na puberdade e termina na meia-idade: simplesmente existe sempre. A sensualidade, o erotismo, as chances de prazer continuam existindo, e, com a maturidade, o caminho é propício ao amor e ao sexo. Na intimidade partilhada pelos casais mais velhos, existe amplo espaço para a ternura. Cúmplices de uma vida, muitas vezes, pais de filhos, avós de netos, até bisavós.

O tempo pode ser um grande afrodisíaco. Como bem diz o belíssimo poema de Márcia Woodruff, extraído do livro “Quando envelhecer vou usar púrpura”: “Encontramo-nos com timidez de virgens/ sem inocência ou beleza/ a cobrir a nudez, apenas/ estes corpos que nos serviram bem/ a oferecer/. Aos vinte, teríamos nos vestido/ de fantasias, lançando/ véus sobre a nossa carne tenra,/ ou nos faríamos espelhos mútuos/ onde pudéssemos nos amar melhor./ Mas nada nos engana mais, agora./ Nossos olhos são mais sábios e mais tristes/ quando apalpo em seu ombro a cicatriz/ onde o alfinete entrou, e você/ toca os sinais de prata em meu ventre/ frouxo de parir./ Somos reais, você diz, e somos,/ aqui de pé nesta carne simples,/ que registrou nossas complexas vidas,/ os corpos transformando-se em dádivas/ ao toque de nossas mãos.”

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